Contra o preconceito
No autismo, muitas respostas contra o preconceito
Jovem de Pelotas faz sucesso no TikTok com relatos sobre seu diagnóstico tardio e a mudança drástica que isso trouxe para a sua vida
Carlos Queiroz -
No início da pandemia, a rede social de vídeos TikTok explodiu. E foi lá que Mariana Camargo encontrou a pergunta que talvez desse as respostas para algo que lhe acompanhava a vida inteira: eu sou autista? Ela decidiu levar a hipótese à psicóloga e ao psiquiatra que lhe acompanhavam e a resposta positiva veio alguns meses depois.
Mas esse é apenas um curto resumo de uma história recheada de perguntas e que agora começa a encontrar respostas mais tranquilizadoras. O diagnóstico é visto como um alívio pela estudante de 25 anos, que cursa licenciatura em Artes e faz sua pesquisa relacionada à educação inclusiva - algo que a levou, também, à rede social TikTok. Por lá, ela atende por @pequenodinossauro, mesmo usuário do seu Instagram, onde reproduz o material. Com quase 70 mil seguidores na rede de vídeos, ela já beira 400 mil curtidas recebidas.
Esta quinta-feira (7) é o último dia da Semana de Conscientização do Autismo e Mariana contou sua história ao Diário Popular, da mesma forma que divulga também nos seus canais: com orgulho e uma sede de conscientizar o próximo sobre a importância de um diagnóstico, a fim de trazer conforto, autoestima e qualidade de vida. “O ruim não é ser diferente, mas sim não entender o porquê”, desabafa. Ao longo dos anos, diversas foram as hipóteses diagnósticas para algumas questões: depressão, ansiedade social, bipolaridade, entre outras. Mas nada que se encaixasse.
Mariana conta que os profissionais apontaram um autismo nível um de suporte e isso fez com que certas percepções estereotipadas se dissipassem. “A minha vida mudou drasticamente”, conclui. O vídeo de uma outra influenciadora acendeu o alerta que a fez perceber alguns sinais. Após o início da pandemia, a jovem notou que a estadia em casa, “sem camuflagem”, fez outras características diminuírem. Sua psicóloga a encaminhou a uma especialista de Porto Alegre, que lhe deu o diagnóstico após um processo que durou meses.
Com o parecer, ela encarou alguns mitos, como o de que não existe autismo tardio, nem em meninas. Ela rebate dizendo que a resposta lhe trouxe qualidade de vida. O que era encarado com inseguranças e preconceitos, como a sensibilidade a cheiros, sons e luzes, bem como a de socialização, agora estava solucionado. O problema foi que a demora lhe trouxe empecilhos em períodos importantes, como na escola e na vida acadêmica.
O que ela definia como um “inferno sensorial”, com as adaptações necessárias deixou de existir, ou pelo menos foi atenuado. “Até diziam que eu era inteligente, mas eu não entregava resultado, então me achava burra”, lamenta. Desde o diagnóstico e a percepção de que necessitava de certos ajustes em suas rotinas, a média de aprovação na faculdade chegou a 100%.
Por isso, ela hoje busca ser atuante pelos demais autistas. Adequações em escolas, em rotinas, em educação, em ambientes sensoriais, tudo isso torna a vida melhor, independentemente do grau. E a resposta resolveu também questões da infância, trazendo qualidade à vida familiar, segundo Mariana. Por fim, pessoalmente a autoestima melhorou, bem como a maneira de se relacionar com amigos e de encontrar respostas ligadas a outros momentos de sua vida.
No TikTok
O salto de visualizações é uma surpresa para a jovem. Ela diz que a empolgação de contar sua história lhe fez criar os vídeos, mas jamais imaginava tanto sucesso. Mariana se surpreendeu com a demanda por informações e ressalta que o diagnóstico deve ser feito por equipes preparadas e capacitadas para tal. A ideia a partir de agora é continuar com o canal justamente por ter encontrado, nos demais autistas, uma comunidade acolhedora. “Escutando outros autistas falar, talvez fique muito mais fácil”, analisa.
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